Seis Horas

 

São seis horas:

Seis horas de fé

De amor e querer.

Seis horas de deslumbramento,

Muito ardor e viver.

 

Seis horas eternas

Em que um ser,

Olhando pra outro ser,

Não hesita em saciar.

 

Seis horas de luz.

Momento em que

Se diz um ai

Ou, quando um ui

Não é de dor,

É de puro amor.

 

Seis horas de confissão.

Seis horas de langor.

Seis horas de compreensão.

Seis horas de desprendimento.

Seis horas de renúncia.

Seis horas de sofreguidão.

 

Porque seis horas não é dia

Seis horas não é noite,

Seis horas é um instante

No doce viver a vida.

 

Oh! Seis horas de sol nascente.

Oh! Seis horas de sol poente.

Oh! Seis horas que não maculam.

Seis horas que exprimem amor.

 

Seis horas num recanto!

Em que o sol se nega a descer

E, mesmo ao longe sumindo,

Parece estar a nascer.

 

Todos cantam seis horas.

Mas só se deve vivê-las.

Pois delas só resplandecem

Amor, encanto e muito calor.

 

São seis horas...

A virgem Santa nos guia,

E o mundo aqui dentro

Parece todo meu.

Tanto, que nem sinto,

 

Que muitos lá fora,

Têm o mundo todo seu.

Seis horas passam rápidas,

E a vida num instante

Como a felicidade

Passa num repente.

 

As almas que amam,

Num momento de eternidade,

Evocam ao bom Deus

Forças para não esmorecer.

 

Não gostaria de partir.

Não gostaria de ver o mundo.

Não quero sentir a noite.

Quero que a vida pare

Num ocaso de seis horas.

 

Quero viver de ilusão.

Quero sentir o prazer

De uma vibração de amores,

Sem desejar pedir

Perdão para dois pecadores.

 

Nas seis horas de encanto

Olvida-se um dissabor,

Enobrece-se a felicidade,

Lembrando a paz interior,

Mergulha-se num sublime enlevo

Altivo e cheio de esplendor.

 

Já sentindo os fulgores

Áureos da tardinha,

Beijei a santa cruzinha

Assim, úmida de orvalhos.

Traduzidos pela lágrima

Inocente das seis horas.

Hércules/1983