O Pescador

 

 

Mãos calejadas pelos remos.

Braços enrijecidos pelo movimento

De lançar a rede e recolhê-la.

Pele ressequida pelo sol candente

E o balanço da jangada

Na onda rasa do mar.

 

Ao longe o horizonte se queda.

No fundo do mar a rede estremece,

E no continente parece que há vida.

O pescador só, navegando a esmo,

Pensa na sua sorte

E se põe a sorrir.

 

Haverá algo mais sublime     

Do que recolher nas redes

Peixes amedrontados,

Tremendo de pavor pelas amarras,

Que os mantém aprisionados?

 

Haverá no tumulto da vida,Alegria maior do que ver,

A rede tremer, torcer e retorcer,

Demonstrando que no fundo do mar

também há vida, dor e prazer?

 

Nesta aglutinação de pensamentos

O pescador toma de sua garrafa,

Ingere alguns goles de pinga,

Olhando as vítimas que se mexem

Na ânsia de um último suspiro.

 

Hércules/1981