É Novembro no Sertão
Mote: O rosto oscila, verga o torso inteiro
Há muito que não chove no sertão:
A terra secou e quente como brasa,
Queima a folhagem, matando o verdão.
Seca os rios, fontes e açudes e em casa
O agricultor sofre, reclama e ligeiro
O rosto oscila, verga o torso inteiro.
Já não há alimentos, os animais mugem,
Com sede e fome cambaleiam esqueléticos
Pelos campos desnudos a procura de pastagem.
A tarde voltam tontos, arredios e famélicos
Ao curral, onde a chorar no vaqueiro
O rosto oscila, verga o torso inteiro.
Só a lua cheia expande seus raios,
Enchendo a caatinga de beleza.
Mas, o horrendo ambiente em desmaio
Só de tristeza assola a redondeza,
E no sertanejo que é verdadeiro,
O rosto oscila, verga o torso inteiro.
Não há uma nuvem sequer no firmamento.
O sol a pino abre fendas na lama.
Procura-se uma sombra por um momento,
E só calor desprende a terra em chama.
E no triste lavrador esse obreiro
O rosto oscila, verga o torso inteiro.
Gaviões tonteiam insistentes pelo céu,
Com os olhos fitos nos campos secos
A procura de aves, preás e tetéus.
Tudo é deserto. No vale uns marrecos
Esvoaçam. No caçador triste e matreiro
O rosto oscila, verga o torso inteiro.
A mãe-da-lua gargalha em alta noite,
O acauã solta seu berro ao amanhecer,
E o sertanejo desperta e num açoite
Lança seu olhar para o sol a nascer.
Triste, com fome e sede no boiadeiro
O rosto oscila, verga o toro inteiro.
Hércules
Outubro de 1975