Entrudo
Sonhei de pierrô,
Uma miragem de palhaço,
Pulando sem cansaço,
Divinizando o amor.
Num distúrbio de alegria
Sonhei felicidade
No meio da orgia.
No calor efervescente,
No êxtase da frivolidade
A dor revelada num grito
Ecoou do meu peito,
Entoando um acalanto
Ao desprezo da carne
E a sanha dos vândalos.
E quando olhei ao derredor,
Ao som da cuíca e do tarol,
Pulavam malmequeres e columbinas,
Querubins de todas as matinas
Numa evolução sem destino.
Explodindo de loucura,
Rasguei a fantasia.
Foi então que vi.
Eu estava só.
Tatuado pelo desencontro medonho
Do eu que sou,
E do pierrô que me retratou.
Hércules
Garanhuns/1985